Aline Matulja, especialista em sustentabilidade e responsável pelo projeto Roda Ambiental, nos contou em entrevista como deve ser o passo a passo para se tornar uma marca mais sustentável.
1) Conte-nos um pouco sobre a Roda Ambiental. Quais são os principais fundamentos e objetivos da marca?
A roda é uma empresa de consultoria ambiental impulsionada pelo compromisso em construir um mundo mais justo e sustentável
através de soluções práticas, mais conscientes, junto aos clientes.
A Roda possui 4 anos de existência, e age em conjunto com uma rede potente de parceiros e clientes com o objetivo de alcançar resultados positivos palpáveis e mensuráveis tanto para a qualidade de vida das pessoas quanto para os ecossistemas.
Na prática, atuamos com 3 estratégias:
- A primeira estratégia, que estamos fazendo na Dimona inclusive, é a “Espaço Lixo Zero”, que consiste em reduzir drasticamente o volume de resíduos que enviamos para os aterros sanitários, através de estratégias de economia circular, de reciclagem e de compostagem.
Na Dimona, estamos trabalhando com a reciclagem de tecidos, onde encaminhamos os retalhos para uma indústria que produz fios a partir de matéria prima têxtil de segunda mão.
- O nosso segundo pilar é Educação e Comunicação. Os desafios de sustentabilidade são desafios humanos e sem uma educação e comunicação adequada, não sairemos do lugar. Buscamos trazer isso para dentro dos clientes através dos treinamentos, textos e conteúdos que produzimos para respaldar nossas iniciativas.
- E o terceiro pilar é o do saneamento ambiental, onde atuamos na construção de sistemas de saneamento ecológico em comunidades ou empresas distantes de uma rede de coleta de esgotos. Assim, temos uma ampliação muito significativa tanto da qualidade de vida, quanto da qualidade ambiental.
2) A discussão da relação da sociedade com o meio ambiente é cada vez mais pertinente no mundo. Produtividade em escala e sustentabilidade são conceitos antagônicos ou convergentes?
Na minha opinião produtividade em escala e sustentabilidade são conceitos convergentes. O modelo de “empresas positivas para o mundo” está crescendo muito a partir do momento em que entendemos que as empresas fazem parte da sociedade.
Nós somos empresas e as empresas são a sociedade ao mesmo tempo. Então, as empresas passam a assumir responsabilidades impulsionadas tanto por uma necessidade legal, quanto pelo entendimento de que sustentabilidade pode fazer parte do cerne dos negócios.
O movimento das marcas sustentáveis está finalmente indo além do marketing para assumir um lugar de protagonismo de escala. As empresas têm uma grande responsabilidade e grande potencial de impacto também. Isso está muito alinhado com as tendências de mercado, pois hoje em dia, no mundo em que vivemos, somos mais do que cidadãos, somos também consumidores. A população já está começando a entender que através do seu consumo, ela pode financiar uma sociedade mais justa e ambientalmente mais equilibrada.
De acordo com o relatório das maiores tendências globais de consumo, dentre as dez principais tendências, a sustentabilidade aparece em no mínimo quatro. Isso está ligado a um estilo de vida mais minimalista, que entende que o consumo precisa ser feito de forma consciente, comprando agora apenas o que é necessário e/ou que seja um produto durável e atemporal. E também está ligado a nossa nova noção de que o plástico realmente não é um material biodegradável.
Nós usamos o plástico durante aproximadamente 1 século como sendo um material descartável e hoje sabemos que de descartável ele não tem nada. Como o plástico fica durante 1000 anos no ambiente, tanto os governos quanto a população estão percebendo a urgência que é adotar outros tipos de materiais e deixar o plástico para bens duráveis.
Aos poucos, essas tendências que batem muito no setor empresarial e nos negócios deixará de ser um choque para ser algo que permeia entre o desejo do consumidor e o desejo de ser uma empresa que faz bem para o mundo.
3) Conte-nos um pouco sobre o projeto sustentável que a Roda desenvolveu para Dimona. Quais os principais objetivos e desafios enfrentados? Quais os resultados práticos no que se refere aos ganhos ambientais?
O nosso objetivo foi, em primeiro lugar, mapear os nossos desafios. Fizemos um diagnóstico olhando toda a cadeia de produção no CD (Centro de Distribuição) e identificamos os pontos de oportunidade de melhorar a produção.
Estabelecemos então um plano estratégico de metas. Na nossa visão moderna, em que temos tudo na hora que queremos, tendemos a achar que iremos atingir a sustentabilidade do dia para a noite. Na realidade não funciona assim pois a cadeia muitas vezes não está preparada.
Uma empresa que quer se tornar sustentável precisa construir um ambiente favorável para tal. Começamos então uma busca ativa por fornecedores e parceiros que pudessem contribuir para tornar o nosso sistema de sustentabilidade da Dimona perene e gradualmente melhor.
O primeiro ponto que conseguimos resolver e motivo de grande alegria foi a destinação dos retalhos de malha para uma indústria que produz fios a partir de matéria prima de “segunda vida”, o que está muito alinhado ao conceito de economia circular.
Sabemos que o algodão da camiseta Dimona é de altíssimo padrão e não fazia sentido algum não aproveitar os retalhos para mantê-los dento do ciclo produtivo para produção de bens duráveis.
Através da parceria com a Sovan, uma empresa de novelos, os retalhos da malha são transformados em novelos de algodão que serão utilizados principalmente para crochê e tricô, dentro de uma produção artesanal de roupas.
Agora o nosso próximo passo é acompanhar, monitorar e entender se essa mudança pode ser melhorada ainda mais no que se refere ao design das camisetas e ao uso das máquinas, e continuar a executar o nosso plano.
4) Como deve ser feito o descarte correto dos resíduos de uma estamparia?
A estamparia envolve a utilização de tintas como matéria-prima e certamente não queremos desperdiçá-las. Para a redução do desperdício, a Dimona já possui uma iniciativa de reaproveitamento dos resíduos que ficam nos baldes de tinta. Nós juntamos e produzimos uma “nova tinta” a partir desses restos, garantindo o aproveitamento máximo do material.
A lavagem das telas, que também envolve a eliminação de resíduos, é feita em um tanque apropriado que coleta todo o efluente que sai dessa lavagem e destina para um tratamento adequado de efluentes industriais. Além do mais, as telas são lavadas com água de reuso, o que diminui ainda mais o desperdício.
5) Como alguém deve reaproveitar/descartar uma peça que não usa mais?
Um ponto positivo do Brasil e que devemos perpetuar é a prática de doar roupas. Até por conta da desigualdade social, nós temos contato com diversas pessoas que precisam das roupas que descartamos. Existem várias iniciativas legais que podemos ressaltar, como por exemplo as doações de roupa do “Projeto Gaveta”, do Exército da Salvação, de igrejas e também as vendas em brechós para peças de maior valor.
Um ponto importante quando vamos realizar doações é se atentar ao local em que está sendo enviada a doação e o estado em que a peça está. Por exemplo, se soltou um botão, antes de doar você pode e deve pregar o botão para que quem receba essa peça tenha uma experiência positiva com ela também.
6) Como a reciclagem pode ser benéfica para as empresa e para a comunidade?
A reciclagem é fundamental para o mundo. Grande parte dos recursos que utilizamos, são recursos não-renováveis, como por exemplo o plástico, que vem da matéria prima fóssil. No panorama em que temos produtos finitos, não faz sentido jogar fora, até porque na verdade, o “fora” não existe.
O lixo que eliminamos fica todo acumulado aqui mesmo, e nós pegamos esses recursos que a natureza dá e transformamos em mais poluição. Se não nos atentarmos a isso, a tendência é realmente termos um país cada dia mais poluído, sem recursos e com o preço das matérias primas indo a alto custo por conta da limitação das possibilidades de recursos.
Reciclar é um paradigma que precisamos adotar para já, mesmo com os recursos renováveis, visto que é um grande desperdício energético descartá-los. O algodão das nossas roupas, por exemplo, demanda um alto gasto de energia, água e trabalho pra sua produção do “zero”. A reciclagem re-insere esses recursos no ciclo produtivo e possibilita a produção de bens idênticos aos que utilizamos hoje, sem ter que extrair ainda mais da natureza.
Também é importante dizer que devemos procurar usar materiais que têm uma alta reciclabilidade, como o vidro e o alumínio, que são infinitamente recicláveis quando comparados ao plástico. O plástico tem um limite de 5 ciclos até que ele deixe de ser reciclável por ficar um material muito fraco, com pouca resistência.
O Brasil recicla hoje menos de 5% do que poderia reciclar. Diversas pessoas que dependem da reciclagem, poderiam estar em condições de vida muito mais dignas caso a população se engajasse mais na reciclagem. Além do mais os nossos mares estariam mais limpos, nossas vidas melhores, enfim, os benefícios seriam infinitos.
7) A Dimona personaliza camisetas com as ideias dos clientes, sejam eles pessoas ou empresas. Qual estampa/frase você criaria pra resumir a sua trajetória como ambientalista?
A minha frase seria “Recycling is the new black”.
8) Muitas marcas exploram a sustentabilidade como bandeira de marketing. Você acha que as marcas exageram e banalizam essa bandeira?
Dentro de um panorama de consumo consciente, vale muito a pena comunicar as ações sustentáveis que você tem dentro da sua marca. A comunicação é fundamental para que o próprio consumidor possa utilizar isso como critério de tomada de decisão na hora da compra.
Eu mesma utilizo as informações ambientais das marcas pra decidir meu próprio consumo. É importante para mim, por exemplo, saber que uma marca não usa tensoativos que não sejam biodegradáveis nos detergentes e produtos de limpeza.
Precisamos nos atentar às informações superficiais. Muitas marcas aproveitam que o consumidor ainda sabe pouco, para passar erradamente uma mensagem de que são “super sustentáveis”. Onde diz o quanto de água o produto utilizou a menos? O que ele fez com os resíduos da produção? De onde veio a matéria-prima?
Com o aumento do Green Washing, que é como se chama a prática de fazer um falso marketing de sustentabilidade, os consumidores já estão ficando mais antenados a respeito disso. O meu trabalho inclusive, como consultora de sustentabilidade e produtora de conteúdo, é mostrar para as pessoas o que é de fato um fator importante para a tomada de decisão e o que é apenas marketing.
Uma coisa que resguarda muito tanto os fornecedores de produtos realmente sustentáveis, quanto os consumidores, são alguns selos, como por exemplo o selo de orgânicos, o selo da FSC de produtos madeireiros e entre outros selos, que trazem essa idoneidade.
O que eu costumo dizer para as pessoas que me acompanham é que elas tentem olhar por trás da informação do marketing de sustentabilidade e busquem entender o porque de uma informação ser melhor do que a outra.
9) Após a consultoria da Roda Ambiental na Dimona, qual mensagem você gostaria de deixar a clientes e funcionários da marca?
A mensagem que eu deixo para os clientes e funcionários da Dimona é que vocês sintam orgulho de fazer parte de uma empresa que está pensando em sua transição sustentável. Tanto os clientes quanto os funcionários fazem parte dessa jornada de transição pra uma operação mais sustentável.
Tragam suas sugestões e suas observações pra que possamos enriquecer esse processo e tornar ele mais participativo com a ajuda de todos. Sustentabilidade definitivamente não é algo que se faz sozinho e nós, como comunidade de clientes e funcionários, temos muita cooperação pra fazer para atingirmos melhores resultados.
Confira aqui todas as práticas sustentáveis que já estão sendo realizadas pela Dimona!